Escrevo sem pensar muito. Escrevo o que tenho vontade. Escrevo porque isso alivia minha ansiedade. E o mais importante: escrevo porque gosto de escrever.
sábado, setembro 02, 2006
Ouvindo loucuras sob a chuva!
Saí para a consulta com o dermatologista e, como era muito cedo resolvi dar um passeio. Atravessei a rua e dei de cara com um morador de rua muito louco que veio sorrindo em minha direção e falou: -Você é muito elegante! Posso te conhecer? E colocou só as pontas dos dedos na minha mão, dizendo que ele não estava gravando agora, que tinha sofrido um acidente, não podia trabalhar, dizendo que Deus está só na Bíblia e Deusas estão na terra. Aquela conversa me fez ver que eu estava diante de um louco desesperançado, como todos os brasileiros que são um pouco diferentes. Ele chamava a si mesmo de "ela", dizia que era uma louca e como louca podia fazer qualquer coisa. Concordei com ele e como estava chovendo um pouco, coloquei meu guarda-chuvas gigante para protegê-lo também. Essa criatura de rua me chamava de mona prá cá e mona pra lá e, lembrando que essa é a linguagem dos travestís, quando se dirigem a uma mulher, sentí-me a prória Mona...lisa. Porque na verdade, o que ele queria era pedir-me algum dinheiro. Estava estampado na cara dele, com o canto dos lábios ainda sujos de alguma droga. Ele estava muito chapado. O pessoal passava e olhava e eu nem aí, ouvindo loucuras do dito ex-dublé. Até que ele falava de coisas bem interessantes para questionar, não fosse a mudança frenética de assuntos. A cabeça dele(a) estava a mil. Só quando me pediu dinheiro foi que eu não soube o que fazer. Estava chovendo, não costumo abrir bolsa na rua, propus voltar do médico e dar-lhe as moedas que ele queria. Só que essa pessoa de hoje não gostou ou não quis me esperar ou não acreditou em mim. Ele simplesmente tirou uma moeda de cinco centavos do bolso e me deu... Achei que ele foi irônico, debochado e com humor negro. Eles têm aquele humor de dar vertigem até em montanha-russa. E eu sou uma pessoa comum. Sentí como os comuns. Fiquei com vergonha e até me sentindo culpada, porque mesmo que digam que não se dá esmolas, eu queria dar umas moedas para aquela pessoa que estava do outro lado; do lado da loucura. E quando voltava para casa, lembrei que há muito tempo, no mesmo ponto de ônibus que estava hoje, passou um rapazinho doente pela fila, dizendo a todos: me dá 10 centavos? Ele era bem conhecido das pessoas. Algumas já viravam de costas, porque ele não insistia. Só passava de um em um, com as palmas da mão em concha, pedindo 10 centavos. Quando ele passou por mim, coloquei 50 centavos na sua mão e ele raivoso, atirou a moeda em mim e falou bravo: -Eu pedi 10 centavos! Não sei porque lembrei disso agora. Acho que uni histórias de louquinhos de rua. Mas foi hilário e tivemos que rir. Eu perplexa, mas meio chateada por ter levado uma moedada quase na cara e por não ter agradado com os meus 50 centavos. Na época, nem sei que dinheiro era. Garanto que não eram os 50 centavos de hoje...
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3 comentários:
gostei da história, aliás das 2.
Por essa ninguém espera, né?
O cara pede $ e como não recebe, te dá uma moeda!
Coisa maluca!!
Eu tenho pânico de moradores de rua! Pra aliviar minha culpa de não dar $$ procuro ajudar alguma instituição que cuide de idosos ou de crianças carentes.
Mas foram duas situações hilárias!
Sabe Ana, eu não confio muito em instituições.Tenho que conhecer muito bem para ver se o dinheiro não vai para os administradores.
Quando eu podia, fazia a minha assistência pessoal a uma família, indo na casa, ajudando e dando condições deles se estruturarem e partirem para o mercado de trabalho. Agora eu faço isso através do meu trabalho. Quer dizer, fazia.
Os ignorantes acham que quem tem depressão, tem que ficar olhando a vida passar e não assumir responsabilidades. E é bem o contrário.
Tenho andado irritada com essa falta de respeito, sabe?
Vontade de chutar o balde!
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